quarta-feira, 28 de maio de 2014

Game of Thrones

"Tolkien está morto, longa vida a George Martin" clama o New York Times. Não poderia concordar mais, nem consigo imaginar melhor forma de demonstrar o que penso sobre esta obra magnífica. Cresci com J.R.R.Tolkien. Em minha casa, os detalhes da histórias de "O Hobbit" e do "Senhores dos Anéis" eram discutidas à mesa e todos lemos a história e fantasia que Tolkien demorou uma vida a escrever. Depois de os ler, qualquer um compreende que nunca mais na sua vida quererá ler ou ver fantasia. Simplesmente não era possível que alguém chegasse lá perto. 

Sonhávamos com o dia em que estas histórias seriam passadas para o cinema, mas não era nessa altura (anos 80 do século passado) possível colocar os enormes dragões, trolls, orcs e gnomos no ecrãn. Mais tarde, durante os anos 90 a tecnologia de CGI desenvolvida em filmes como o Terminator II, Parque Jurássico e na Guerra das Estrelas (Episódio I) permitiram sonhar e um destes muitos leitores acabou por levar as histórias de Tolkien ao grande ecrãn. Sabíamos que "O Hobbit" ainda poderia chegar ao cinema, mas não haveria mais nada a esperar em termos de fantasia até ao final da vida. Até à chegada de George Martin...

Confesso que só procurei os livros depois de ter visto a série. Nunca tinha ouvido falar dele. E mesmo que tivesse, provavelmente não teria sentido qualquer curiosidade. Afinal de contas eu lera Tolkien. Várias vezes. Em Português e mais tarde em Inglês. Mas George Martin não é uma cópia de Tolkien. Longe disso. Ao preto e branco de Tolkien, Martin responde com diferentes tonalidades de cinzento. À impecabilidade ética e moral do primeiro, o último responde com relativismo e amoralidade. Por outro lado, Martin é claramente de uma época diferente, onde o sexo e a violência são explícitos na televisão e os hediondos crimes das personagens são aceites de forma mais ou menos habitual nesse mundo. Uma outra curiosidade deste autor é a forma como ele sacrifica personagens principais. Quando começamos a julgar que o centro de toda a história é uma pessoa, vemo-la morrer. Por vezes juntamente com toda a sua família e aliados. Outras vezes matando tanta gente que nem percebemos como vai Martin conseguir continuar a contar determinados eventos na primeira pessoa, como sempre faz. Ninguém está seguro.

O conservadorismo de Tolkien está presente em toda a história. O objectivo desde o primeiro até ao último momento é regressar a um passado quase perfeito em que o homens e elfos dominavam o mundo. O seu sucessor literário é, nesse sentido muito diferente. Existe uma constante referência a um passado mítico de magia e dragões, mas que ao mesmo tempo não é algo a que se procure voltar. Inúmeras motivações muito mais mundanas de poder, sexo e dinheiro que estão muito mais presentes do que o direito histórico e as lendas de milhares de anos atrás. Aliás, algumas das personagens mais eruditas de Game of Throne, colocam em causa sequer se essas antigas personagens, reis, raínhas, capitães do Night's Watch ou os reis do Norte sequer existiram.

Não aconselho Game of Thrones a toda a gente. Mas não é certamente uma série (ou livros) apenas para adeptos da ficção científica e fantasia. Os seus interesses, motivações e profundidade das personagens apela a todas as pessoas. Muitos ficarão horrorizados pela violência e sexo sempre presentes. Outros pela crueldade com as personagens mais centrais da história morrem, por vezes sem aviso. Mas uma coisa é certa: não é por acaso que Game of Thrones é hoje o produto mais pirateado de sempre. De facto, não tem comparação.

Agora, resta-nos esperar pelos livros que ainda não sairam. E pelos episódios que faltam desta Série 4 para depois passarmos mais 9 meses à delirar com o que vimos e sonhar com que se vai passar a seguir.

Winter is coming!

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