quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Israel, Islão e as vítimas

Sou um crítico acérrimo de algumas das políticas violentas e racistas do governo israelita e do apoio implícito ou explícito que os Estados Unidos da América e as potências ocidentais lhes dão. Conheço muito bem a realidade no terreno e o verdadeiro apartheid instalado nos territórios ocupados da Palestina e em Israel.

Mas é de facto muito estranho porque motivo tantos conflitos muitíssimo mais violentos são perfeitamente desconhecidos da maioria das pessoas quer no médio oriente quer no ocidente. Ninguém fala dos genocídios dos Arménios, da perseguição dos comunistas Indonésios, da guerra Irão-Iraque, da guerra da independência do Bangladesh (Paquistão Oriental), etc.
Restos de um T-62 Iraquiano usado na Guerra Irão-Iraque

O gráfico que se segue faz parte de belíssimo curso online - de graça - do Prof. Ebrahim Afsah[1] sobre os "Desafios constitucionais no mundo islâmico" da Universidade de Copenhaga.

Comparem, no quadro abaixo, as vítimas mortais das guerras entre Israel e os seus vizinhos (a azul), com as guerras no médio oriente e outras zonas de maioria islâmica sem intervenção israelita ou ocidental (a verde). Devo notar que o próprio Afsah considera estes números extremamente conservadores.

Certamente não desculpa nenhum dos crimes cometidos por Israel, Estados Unidos e restantes países ocidentais. Mas coloca-os em perspectiva.


Carregue para ver o gráfico em tamanho aumentado.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Emirados e o Serviço Militar Obrigatório

Num movimento inesperado, o Primeiro-Ministro dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohammed Al Maktoum anunciou o início do Serviço Militar Obrigatório para todos os Emirados[1]. Tipicamente, os países optam por esta via quando sentem algum tipo de ameaça militar regional ou geo-estratégica. Em alguns casos, quando já têm o inimigo às portas. Neste caso, essa lógica dificilmente pode ser defendida já que os Emirados não se encontram em guerra com nenhum país. Têm relações extremamente amigáveis com os vizinhos com quem partilha fronteiras terrestres (Oman e Arábia Saudita) e tem uma aliança fortíssima com os Estados Unidos da América e com a europa ocidental.
Sheikh Hamdan, príncipe herdeiro do Dubai no topo do Burk Khalifa
celebrando a vitório da Expo 2020

Têm no entanto alguns países com quem as relações são bastante piores, mas nenhum deles parece ser uma ameaça a médio ou longo prazo. Israel está longe, o Irão está mais amigável do que nunca (embora seja verdade que ainda têm umas questões territóriais de umas ilhas no golfo por resolver[2]) e a Síria de Assad tem demasiados problemas para resolver em casa do que tentar atacar os patronos da resistência.

Uma outra hipótese de cariz securitário seria algum tipo de revoltas internas ou risco de revolução, mas não me parece que exista qualquer tipo de problema desse tipo no horizonte em nenhum dos sete Emirados. O país está, como sempre, pacífico e a população satisfeita com a governação do Presidente Sheikh Khalifa (que acumula essa função com a de Sheikh de Abu Dhabi) e do Primeiro-Ministro Sheikh Mohammed (que é também Sheikh do Dubai). Ambos os príncipes herdeiros de Abu Dhabi (Sheikh Mohammad Al Nahyan) e Dubai (Sheikh Hamdan Al Maktoum) são estimados pela população local e expatriada e também daí não parecem vir grandes problemas.

O país continua a sua ascenção económica, o Dubai recuperou do crash de 2008/2009, e recentemente ganhou o concurso para a Expo 2020[3], que será feita à saída do Dubai, a menos de uma hora de Abu Dhabi, pelo que deverá beneficiar não só a cidade, mas vários dos Emirados.

É verdade que os EAU têm feito grandes investimentos militares na última década. São, aliás, um dos grandes compradores de armas a nível mundial, mas parece-me que isso se deve mais a um jogo de compromissos e amizade entre os EAU e os EUA do que propriamente uma necessidade militar. Uma ideia que certamente merecia um artigo especificamente sobre o assunto e que se alargaria a outros países da região.

Porquê então um serviço militar obrigatório? A resposta está, na minha opinião, nos detalhes. No anúncio do Twitter, Sheikh Mohammed afirmou que o serviço será "obrigatório para todos os nacionais emiratis entre os 18 e os 30 anos", que será opcional para as mulheres, que terá a duração de 9 meses para os que tiverem o secundário completo e dois anos para os que não o completarem.

Já várias figures de destaque da sociedade emirati tinham mostrado preocupação pela falta de desafios da sua juventude, como escrevi há dois anos[4]. Em alguns casos, o estado social é tão forte que cria uma opção extremamente perigosa para o país que é não se fazer nada. Ou seja, que algumas pessoas simplesmente optem por viver exclusivamente de subsídios. Este movimento do governo dos Emirados parece que vai nesse sentido e procura resolvê-lo de várias formas simultaneamente. Por um lado, trazer para as forças armadas todos aqueles em idade apropriada, penalizar os que não completaram os estudos (de referir que os estudos são totalmente pagos pelo estado para os cidadãos dos Emirados, pelo que a condição financeira não é uma questão) e acima de tudo disciplinar uma parte da sociedade que, do ponto de vista de algumas figuras importantes locais[5], corria o risco de se sentir excessivamente confortável. 

Red Bull Air Race está de volta

Infelizmente não a Portugal, mas o evento vai voltar a encher os céus de várias cidades pelo mundo fora. Espero ter a oportunidade de assistir à abertura, em Abu Dhabi. 



Ainda não esqueci a vergonha que foi o processo de 2009/2010 em que Lisboa - específicamente na pessoa de António Costa - procurou roubar o evento ao Porto utilizando os dinheiros do estado central - na altura ainda nas mãos de José Sócrates. 

Espero que o novo presidente do Porto, Rui Moreira, esteja atento e faça os possíveis para que em breve esta prova possa voltar à cidade Invícta.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Estados Unidos e os seus inimigos

Pensava há uns dias numa possibilidade que hoje parece altamente improvável, e que há um ano seria totalmente impossível. As tropas de Assad a lutarem lado a lado com os americanos. Os amigos e inimigos mudam de década a década, por vezes tornando-se exactamente o oposto em muito pouco tempo.

Depois lembrei-me desta imagem. O Presidente Reagan recebe os líderes Mujaheddin na sala oval da Casa Branca em 1983. Parece impossível não?