terça-feira, 17 de setembro de 2013

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A senseless squalid war - Voices from Palestine 1945-1948

Estou habituado a ler muita propaganda. Normalmente não vale a pena levá-la demasiado a sério e é facilmente reconhecível a milhas. Por esse motivo, não é tão perigosa, porque só acredita nela quem já acreditava antes de a ouvir. Serve apenas como reforço de ideias pré-estabelecidas ou, se preferirmos, preconceitos no sentido exacto do termo. Para quem aprecia a história recente do Médio Oriente, ser alvo de propaganda é ainda mais comum do que o normal quando lemos história um pouco mais antiga.

Norman Rose é o autor desta brilhante obra de propaganda. Consegue alterar a história sem mentir em nenhum momento. Consegue legitimar crimes imensos apenas brincando com uma lupa. Mostrando o que lhe interessa e fazendo desaparecer da história o que é mais difícil de explicar. Atira para um canto factos indesmentíveis sem pensar duas vezes e quando a a situação é impossível de explicar utiliza uma tática bastante suja de comparar a crimes ainda piores. Uma obra que desaconselho vivamente para quem pretenda compreender o conflito Israelo-Palestiniano num só livro. Para isso outros, bem mais equilibrados e completos serão mais adequados.
David Ben Gurion

No entanto, este é o livro perfeito para quem queira perceber como é possível

alguém ser cúmplice de um dos grandes crimes do século XX e dormir descansadamente durante a noite. Como é se consegue simplificar a história o suficiente para que no final apoiemos e defendamos verdadeiros criminosos responsáveis por homicídios, violações e roubos em larga escala.

Vejamos alguns exemplos. Norman Rose dedica dezenas de páginas a Haj Amin al Husseini[1] o desacreditado Grand Mufti de Jerusalém até 1937 procurando colocá-lo como grande líder Nazi da Palestina. No relato do seu encontro com Hitler em Novembro de 1941, Norman Rose chega ao ponto de colocar sentimentos e pensamentos nas cabeças dos intervenientesl. Refere-se a um "encontro de mentes" e "claramente existia uma química entre os dois". Palavras que o autor sentiu necessidade de acrescentar ao que Haj Amin e Hitler realmente disseram. Haj Amin viveu no exílio desde 1938, passando por vários países, incluindo a Alemanha e a Itália. Depois de na Primeira Guerra Mundial os árabes se terem unido ao Reino Unido para destruir o Império Otomano, para depois verem todas as promessas ficarem por cumprir, alguém achará estranho que tenham tentado bater a outras portas? Em especial depois da Declaração de Balfour[2] e da aliança informal entre o governo britânico e as forças paramilitares judaicas do Haganah durante a revolta de 1938, estranho seria se tornassem a bater-se ao lado dos ingleses. De qualquer forma, esta obcessão por Haj Amin está longe de ser inocente. Como não é inocente o facto de até o museu do Holocausto fazer questão de falar do Mufti[3]: por todas as formas e feitios procuram que os crimes cometidos sobre os palestinianos seja transformados em retribuição. Como não é possível encontrar qualquer culpa dos palestinianos nos crimes do Holocausto, a solução passa por insinuar esse mesmo crime sem que nunca o digam.

Mas se Haj Amin teve direito a inúmeras páginas, o facto do Stern Gang[4], um dos grupos paramilitares judaicos de inspiração fascistas, ter procurado uma aliança com a Alemanha Nazi já em 1940 não mereceu mais do que uma breve referência. Aqui, Rose não sentiu qualquer necessidade de nos falar em "encontro de mentes" ou algo do género.

Para além do Stern Gang e do Haganah, existia um terceiro grupo paramilitar judaico na Palestina que se dedicou a ataques terroristas, o Irgun[5]. O seu mais espectacular ataque terrorista foi no Hotel King David, em Jerusalém (que servia como sede administrativa britânica), no dia 22 de Julho de 1946 causando 91 mortes. O autor desfaz-se em desculpas procurando criar distância entre a liderança política judaica (Ben Gurion) e o Irgun. Mas a realidade é que o ataque foi previamente aprovado pelo conselho judaico. O líder do Irgun, Menachem Begin, longe de ser afastado pela sua comunidade por este acto chegou a primeiro ministro de Israel umas décadas mais tarde.

Mas Norman Rose não se fica por aqui. Do início ao fim, o livro desculpabiliza o Império Britânico. Desde a escolha do título (retirado de uma frase de Winston Churchill, enquanto líder da oposição no pós-guerra) até à descrição dos últimos dias do Mandato, o autor procura mostrar que a culpa não foi realmente dos inlgeses, que estes não passavam de representantes da ONU que não tinham quaisquer ambições na região e procuravam apenas deixar o Levante em melhor estado do que o encontraram. Como bom exercício de propaganda, o livro procura não agredir os sentimentos do alvo da mensagem, o Ocidente.


Nakba 1948 - Refugiados fogem da Palestina
E quanto a Deir Yassin e a todos os outros massacres que deram origem à Nakba, a grande limpeza étnica da Palestina que levou centenas de milhares de muçulmanos e cristãos para fora do território, Rose ignora olimpicamente declarando que os "êxodos são normais em qualquer guerra". Aliás, em várias situações fala na questão da competência e da unidade. Resume o resultado final ao facto de um dos lados estar organizado e o outro estar sem liderança. É uma forma interessante de evitar a questão moral. É que mesmo sendo verdade, será que ele utilizaria os mesmo termos quanto ao próprio Holocausto? Consideraria ele que no conflito entre nazis e judeus, um dos lados mostrou mais liderança e organização, e que a culpa de terem existido tantas vítimas seria exclusivamente da responsabilidade da exilada liderança judaica? Certamente que não. A culpa de um homicídio é do assassino, não do irmão mais velho que não estava presente e deveria ter estado.

O que tinha tudo para ser um livro espectacular torna-se portanto num case study de propaganda política disfarçada de publicação histórica.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

No, you Can't Mr.Obama

Obama prepara-se para escalar mais um degrau no nível de violência que temos na Síria. Estimam-se já em mais de 100.000[1], os mortos desta guerra civil. Os refugiados em mais de dois milhões[2].


Allepo, Síria
Não tenho dúvidas de que ficarmos a olhar enquanto um país se desintegra não é solução. Não acredito no que muitos chamam de "solução síria"[3], que se limita a ser deixar que se matem todos. No Rwanda, na Bósnia, no Líbano, na Somália e muitas outras guerras civis, a matança não acabou só por si. E em muitos casos só acaba passadas décadas de violência, quando a guerra civil já consumiu tudo o que o que o país tinha.

Mas esta guerra não é um problema só dos Sírios. Arábia Saudita[4], Qatar[5] e Emirados Árabes Unidos[6] colocam dinheiro e armas nas mãos dos rebeldes. O Reino da Arábia Saudita, em especial, tem estado a dar um enorme apoio aos rebeldes fundamentalistas de influência wahabista. Quererá Obama ficar como responsável por mais um país nas mãos de uma Arábia Saudita com muito pouca paciência para a liberdade religiosa? E até quando Obama acredita que conseguirá controlar o Reino, quando se prepara uma sucessão com potencial para correr muito mal[7]?

Os relatórios de que a Al Qaeda está presente em larga escala também são mais do que muitos[8]. Embora provavelmente estes grupos sejam mais de inspiração da Al Qaeda do que propriamente ligados à sua liderança real (se é que ainda existe uma), a verdade é que estamos a falar de verdadeiros inimigos do Ocidente, da Democracia e da liberdade religiosa. Depois de ficar para a história como o Presidente que apanhou Osama Bin Laden, será que Obama vai querer ficar também como o homem que deu à Al Qaeda um novo santuário depois de Bush ter destruído o anterior?


A sexta esquadra avança para o Médio Oriente
Mas olhemos para este assunto de outra forma. A situação está tão má na Síria que se compreende que os "polícias do mundo" sintam necessidade de fazer algo. Uma mente mais ingénua do que a minha (e com menos conhecimentos de história do Médio Oriente[9]...) até poderia propor uma invasão, retirar o ditador Al Assad do poder e tornar a Síria num exemplo de democracia para todo a região. Depois todos os outros países imitariam esse belo exemplo e poderiam viver felizes para sempre. Mas também não é isso que Obama quer fazer. Ele assegura-nos já que não haverão tropas americanas no terreno ou, de uma forma mais teatral, no boots on the ground. Teremos por isso uma intervenção mais limitada. A aviação americana destruirá todos os alvos e mais alguns e os misseis de cruzeiro vão limpar os palácios, bunkers e instalações militares mais pesadas. Mas sempre sem tropas no terreno. Que acontecerá depois? (alguém lhe deve ter feito estas questões porque em apenas dois dias já parecem existir dúvidas em relação a essa promessa[10])
Obama prepara a sua "guerra de opção"

Dá para imaginar que isso trará vantagens no terreno aos rebeldes. Mas sem ninguém a controlá-los, deveremos esperar por mais do que aconteceu na Líbia? Eu diria que vai ser muito pior. Uma guerra civil muito mais prolongada, um país mais misturado em termos de religiões, etnias e ideologias, eu esperaria que as vinganças serão terríveis. Espero uma invasão ao estilo soviético em 1945 com massacres atrás de massacres. Aos milhões de refugiados juntar-se-ão muitos mais e o regime (e os sects não-sunitas) lutarão quase até à última bala.

Uma outra hipótese é a silver bullet. Uma bala certeira (ou mais precisamente, uma bomba de várias toneladas.... certeira) que apanhe Assad e a guerra acabe miracolosamente. Por vezes a queda do líder acaba a guerra de uma só vez. Em Angola, décadas de guerra acabaram com a dramática morte de Jonas Savimbi[11], no entanto foi acompanhada de uma vitória militar clara sobre o adversário. Mas aqui, e quando Obama declara à partida que não quer tropas no terreno, a vitória militar vai demorar um pouco mais. E será muito mais descontrolada, mais ao estilo do Afeganistão pós 2001.

A solução - obviamente - passa pela Rússia e pelo Irão. Obama deveria estar sentado à mesa com o novo presidente iraniano e com Putin. Se retirarem as armas aos dois lados do conflito forçam-nos a conversarem uns com os outros. Coloquem-se na posição dos interesses russos e percebam o que têm que lhes oferecer para que estes obriguem Assad a desistir. Seja a inviolabilidade da base da frota russa no mediterrâneo, a vida de Assad em Moscovo ou Teerão ou outra coisa qualquer que seja razoável ceder. Dêm uma oportunidade ao Irão para que junte à comunidade internacional.

O Médio Oriente é já, hoje, uma confusão louca. Todos os problemas estão misturados. Cada problema não resolvido é mais um que se junta à lista de esqueletos no armário. Este é mais um que se prepara para alimentar ainda mais esta loucura da guerra de civilizações que muitas tanto procuram como panaceia para todos os males do mundo.

Há uns anos atrás, todos rejubilamos quando vimos Bush reformar-se. O warmonger estava fora do caminho. Obama era novo, mostrava uma vontade férrea de mudar o mundo e o mundo encheu-se de esperança com ele. Hoje, com Guantánamo ainda a funcionar, a guerra do Afeganistão tão mal como sempre, um Iraque abandonado à sua sorte, uma Primavera Árabe que não recebeu o mais pequeno apoio dos americanos, e os Estados Unidos da América a soarem os tambores de guerra, só me ocorre uma frase...


NO YOU CAN'T MR.OBAMA!


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Revisionismo Nazi


Foi por mero acaso que me deparei com este documentário no YouTube. É sempre bom encontrar quem discorde das nossas opiniões e ainda melhor se desafiar tudo aquilo que damos por garantido. Este é um documentario assumidamente revisionista, mostrando a Segunda Guerra Mundial pelo lado de Adolf Hitler.

A ideia geral é de que a guerra não foi provocada por Hitler mas sim pelos aliados ocidentais e pela Rússia. Curiosamente a esmagadora maioria dos factos apresentados são reais e - ao contrário do que o título acusa - conhecidos e publicados pelos historiadores.

Adolf Hitler
É um facto que Hitler não pretendia uma guerra com o Reino Unido e a França. Considerava que o seu espaço vital se encontrava a leste, e substimou a ameaça quando decidiu invadir a Polónia. Também é verdade que o comportamento da diplomacia da Polónia no período entre guerras foi deplorável e valeu-lhe muitos poucos amigos. Que a tirania de Stalin não ficava abaixo da de nenhum outro ditador megalómana. 

Também a questão do tratado de Versailles é relevante e conhecida. As decisões dos vencedores da Primeira Guerra Mundial são o motivo número um para o início da Segunda Guerra Mundial. As indemnizações, os novos países criados artificialmente, os impérios desmembrados e, genericamente, a prepotência vingativa dos velhos impérios em relação aos derrotados levou a que fosse uma questão de tempo até que um nova guerra eclodisse.

O que este documentário se esquece de mencionar é o resto: o Holocausto, o tratamento dos prisioneiros russos, as limpezas étnicas, o racismo de estado do movimento Nacional Socialista.

De qualquer forma é relativamente interessante tentar perceber o que vai na cabeça dos revisionistas e quais são os seus argumentos. E aceitar que muitos são válidos mas, no final de contas, cometem o mesmíssimo erro que acusam os historiadores de cometerem. Esquecem-se de mencionar "o resto".