sexta-feira, 23 de março de 2012

Self Hating Western

Tenho-me visto confrontado diversas vezes com acusações interessantes quando discuto questões relativas ao Médio Oriente ou às relações entre "Ocidentais" e "Orientais" (tipicamente Árabes).

Num comentário no jornal online Expresso, em que apreciei um artigo de Faranaz Keshavjee com o título "Mulheres e sexo no Irão", lembrei a importância de não nos deixarmos levar pelas tentativas de demonização que precedem todos os conflitos desde a invenção da propaganda e pela necessidade de distinguirmos entre o que faz um governo e o seu povo.

Recebi uma resposta bastante extensa, que culminava com a seguinte frase:

"Bom, isso só será válido para o outro lado, certo? Sim, porque "nós" os 'ocidentais' somos os mauzões, burros, que confundimos tudo, ao contrário dos não-ocidentais que já nos toparam há muito e sabem muito bem distinguir o Povo dos Governo."

(o artigo original, o meu comentário e a resposta original pode ser encontrada em http://expresso.sapo.pt/mulheres-e-sexo-no-irao=f713581)

Recentemente numa reunião com a minha família alargada, e discutindo a "Primavera Árabe" e a "Guerra contra o Terror", recebi também umas críticas que seguiam vagamente a questão da guerra de civilizações e da necessidade de eu escolher um lado.

Noutras situações, quando apresento situações que considero vergonhosas passadas no ocidente, tais como Guantánamo, tortura, o petróleo e as guerras no Médio Oriente, rapidamente ouço comentários que desprezam o assunto em questão e passam para um ataque pessoal do género "se preferires podes ir viver para o Irão ou a Arábia Saudita".

Simplificando, e re-utilizando um termo pejorativo dado aos judeus que se atrevem a condenar algum acto do governo de Israel, consideram-me um self hating western. Nessa condição, assume-se que eu tenho um ódio contra a minha religião, cultura, nacionalidade, continente, cor de pele, etc. Uma espécie de um complexo de culpa por todos os crimes alguma vez cometidos pelos países ocidentais.

Para que fique claro, eu considero a civilização ocidental de origem judaico-cristã mas definitivamente secular, livre, capitalista e humanista como uma das maiores maravilhas alguma vez construídas pela humanidade. É precisamente por acreditar nisso e - até agora - não ter encontrado nenhuma alternativa que a consiga superar, que procuro defendê-la todos os dias. E defender os ideais das revoluções francesas e americana, da carta dos direitos humanos, da convenção de Genebra, etc. significa lutar por eles e gritar desalmadamente cada vez que alguém os procura atropelar.

Quando Bin Laden entra para a história com o maior ataque terrorista da história, o Ocidente sofre enormes danos. Para além das vítimas directas, alguns dos maiores foi mesmo a propensão para suspender direitos humanos, para permitir a tortura de suspeitos de terrorismo, para demonizar os mais de mil milhões de muçulmanos que foram todos considerados culpados pelo crime que umas dezenas de pessoas cometeram.

Defendermos o nosso estilo de vida e a nossa civilização tem que passar por defender todos esses direitos conseguidos durante séculos. Significa também apoiarmos todos os que procuram o mesmo, seja na Tunísia, Egipto, China, Irão, Arábia Saudita ou Israel.





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