quarta-feira, 14 de março de 2012

Newt Gingrich - III Guerra Mundial

Tenho acompanhado as primárias do Partido Repúblicano americano com alguma preocupação, em especial no que toca a diplomacia a guerra. Um a um, todos vão ao beija-mão à AIPAC, o maior loby judeu nos Estados Unidos e competem para ver quem faz as mais bárbaras e parciais posições sobre o médio oriente e os seus ancestrais problemas. Os Democratas não andam muito longe disto mas o seu nível de ridículo parece ter algum limite.

Newt deixou-me de boca aberta quando se refiriu aos palestinianos com a frase "These people are terrorists" durante um debate dos candidatos republicanos (http://www.guardian.co.uk/world/2011/dec/11/newt-gingrich-palestinian-comments-criticised). Este é normalmente o prelúdio de uma guerra. A milenar frase de que a primeira vítima da guerra é a verdade poderia certamente ser acompanhada pela demonização do povo inimigo. Já o vimos inúmeras vezes: os alemães passam a ser hunos, os americanos yankees, no rwanda eram baratas e chegamos a ter o Primeiro Ministro de Israel - Menachem Begin - a referir-se aos palestinianos como two-legged beasts. Tenho a certeza de que Hitler terá utilizado termos semelhantes em relação aos judeus. E vimos como isso acabou...

Transformar os inimigos em demónios é a forma mais fácil de conseguir que os soldados disparem no momento crucial. Que assassinem civis, velhos e crianças indiscriminadamente e que possam voltar para casa no final e dormir acreditando que fizeram algo de positivo.

Quando Newt resumiu os palestinianos a terroristas (provavelmente nunca terá conhecido nenhum senão teria pelo menos que pensar nas excepções...) preparou o terreno para algo muitíssimo grave: dar carta branca aos israelitas para fazerem o que bem entenderem no médio oriente. Seja no Irão, West Bank, Gaza, Líbano, Jordânia, Egipto, Síria ou no que quer que bem entendam. Talvez eu estivesse a exagerar quando pensei nisso, mas depois encontrei um artigo escrito pelo próprio em 2006 com o título "Third World War" do mesmo e dissipei as minhas dúvidas. Aconselho a leitura completa do artigo de opinião do candidato a candidato presidencial. Aqui fica o link:

http://www.humanevents.com/article.php?id=16065

Neste artigo, a invasão de Israel ao sul do Líbano (normalmente chamada de VI Guerra Israelo-Árabe), que durou 33 dias e que resultou numa das maiores vergonhas militares da história da Israel, a história é invertida e nas suas palavras é o Hizbullah que ataca Israel. O pretexto é uma das muitas escaramuças constantes que existem entre os dois. Naturalmente, o primeiro ministro israelita Olbert já tinha a invasão pronta e esperou apenas pelo próximo incidente para a iniciar um ataque massivo sobre o Líbano. Inicialmente o ataque era só com a força aérea e os seus objectivos eram partir a espinha ao Hizbullah enquanto simultaneamente deixavam todo o país (incluindo as áreas controladas pelos seus próprios aliados Cristãos Maronitas e o Exército Libanês) de volta à idade da pedra. Destruiram 77 pontes, 900 espaços comerciais, 30.000 casas, 31 "public utilities" com estações de tratamento de esgotos e centrais de energia, 2 hospitais e inutilizaram a pista do aeroporto de Beirut (que em momento algum fora controlado pelo Hizbullah). (fonte: David Hirst "Beware of Small States"). Depois invadiram por terra onde sofreram derrotas em Bint Jbeil e Maroun al-Ras. Tudo isto enquanto os líderes ouviam tudo o que se passava no lado israelita por conseguiram descodificar os canais militares israelitas (ao estilo dos ingleses com a Enigma na II Guerra Mundial). Também os famosos tanques israelitas Merkava sofreram mais de 50 baixas às mãos de improvised explosive devices e armas anti-tanque portáteis. Tudo isto Newt ignora, transformando (mais) esta war of choice numa guerra de sobrevivência.

Depois Newt continua com a sua lógica retorcida com um capítulo com o nome "Are We For Civilization or Appeasement?", onde volta à velha história de "ou estás comigo ou contra mim", sendo que neste caso o estarmos com ele significa sermos civilizados e se estivermos pela aproximição deveremos ser certamente traidores e incivilizados.

Felizmente este senhor parece estar fora da corrida. Mas também os outros pretendentes ao trono têm tido algumas declarações interessantes sobre política internacional e diplomacia. Voltaremos a isso sem dúvida...

2 comentários:

  1. estás a cometer uma injustiça na tua avaliação Ron Paul tem posições completamente opostas e tenho grande pena que esteja a ficar para trás (se bem que no que conta que são os delegados ainda esta na corrida), acho que era uma lufada de ar fresco no panorama mundial. é injusto não fazeres a separação do Ron Paul para o resto dos candidatos.

    discordo dele quando toca a saude e Segurança social, mas essa parte "é só lá com eles" :)

    quanto ao Newt, é atrasado mental demais até para americanos votarem nele, esse está fora :) heheheheh don't worry

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  2. Concordo. Nesse famoso debate (ainda estavam os 5 ou 6) o Ron Paul foi o único que mostrou que não só compreendia o assunto como também que a coisa não se resolvia achando que de um lado estão bons e no outro estão maus. Bom senso raro entre candidatos repúblicanos.

    Dos restantes ouvimos coisas interessantíssimas, como "vou fechar a embaixada de Teerão", "toda a Cisjordânia e Gaza são Israel" e outras do mesmo nível.

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