quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A demissão de Vitor Gaspar

Pergunta do jornal Público em 2012-02-02

Acha que Vítor Gaspar deve demitir-se depois das críticas de apoiantes de Cavaco Silva à política que consideram ser ultraliberal do ministro das Finanças?


Resultado:


Sim: 29%
Não: 71%

Sempre considerei estes inquéritos bastante divertidos. Não têm qualquer significado estatístico e normalmente permitem-nos desabafar os nossos sentimentos sobre o assunto do dia. No jornais desportivos divertimos-nos a escolher as respostas mais absurdas para apoiar mudanças de treinadores nos adversários ou pedir para que eles coloquem o pior dos 3 guarda-redes em campo só porque o titular deu um frango no último fim de semana. Mas a dois de fevereiro, o Público conseguiu ultrapassar a concorrência na competição pelo inquérito mais inútil e desprovido de significado:

1. Um ministro não deve ser demitido só porque alguém criticou as suas políticas, a não ser que essa pessoa seja o seu Primeiro Ministro.

2. Não sei bem o que são as críticas de apoiantes de Cavaco Silva. Não é claro porque motivo o nome do Presidente é chamado à pergunta, mas segundo o Publico, parece que Cavaco Silva é responsável por todos os que o apoiam (salvo erro uns 3 milhões de votantes nas últimas eleições). Será que o próprio Vítor Gaspar e o resto do governo também não votaram no Presidente? Não será que existem uns poucos "apoiantes de Cavaco Silva" que apoiam estas medidas?

3. Por outro lado, quase que subentende que o Presidente terá enviado recados através de alguns dos seus apoiantes. Não sabemos, está à vontade para o fazer, mas mesmo que fosse o caso, essas pessoas não estão mandatadas pelo povo português por isso a opinião delas vale tanto como a minha.

4. Se o Presidente quiser fazer alguma crítica directa, tem toda a legitimidade para o fazer e terá certamente os media e o povo português a ouvir as suas palavras. Mas não faz parte das suas funções escolher ministros. Pode dissolver o parlamento, mas não escolher os indivíduos que compõem o governo.

5. Quanto à parte da política neo liberal, este governo foi votado para resolver os problemas do país e seguir a sua linha ideológica e política. Goste-se ou não, não é surpresa o que está a fazer e tem legitimidade democrática para o fazer.

Ou seja, os resultados do inquérito não nos dizem nada. Talvez 71% tenham votado que não (se deve demitir) porque gostam das políticas. Ou simplesmente porque não é esse o motivo porque deveria sair. Ou que até gostariam de políticas ainda mais ultra liberais. Ou porque consideram que não é um grupo de notáveis ou amigos de alguém importante que deve decidir quem fica ou não num governo. E mesmo em relação os que votam "sim", querem que ele saia porque é fraco, porque não gostam das suas políticas ou porque acham que um ministro se deve demitir cada vez que um grupo senadores não eleitos assumem que não concordam com ele?

Resumindo, o Público conseguiu criar um dos inquéritos mais inúteis que já vi. Como não dou esta competição por terminada estarei atento nos próximos tempos para ver se se conseguem superar. Só é pena que não tenha o nome do jornalista que o escreveu para lhe podermos entregar o prémio em pessoa.

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